domingo, 30 de março de 2014

Uma Cidade Sem Passado

Uma Cidade Sem Passado (Das Schreckliche Mädchen, Alemanha Ocidental, 1990) – Nota 7,5
Direção – Michael Verhoeven
Elenco – Lena Stolze, Hans Reinhard Muller, Monika Baumgartner, Elisabeth Bertram, Michael Gahr, Robert Giggenbach.

Em meados dos anos setenta, numa cidade do interior da então Alemanha Ocidental, a adolescente Sonja (Lena Stolze) vence um concurso nacional de redação e se torna a queridinha da professora de literatura. Esta mesma professora inscreve Sonya em outro concurso onde um dos temas é “Como era sua cidade na época do III Reich”. Para susto da professora, Sonja escolha o tema, mas diz que pretende escrever como a Igreja lutou contra o nazismo. 

Não demora para Sonja descobrir que habitante algum do local deseja falar sobre o fato, exceto uma velha senhora que antes de morrer cita que a única pessoa da cidade presa como nazista ao final da guerra foi o prefeito e que o culpado era um sujeito apelidado de “Heinrich Marrom”. As dificuldades fazem Sonja desistir da pesquisas, mas não esquecer do tema. Após alguns anos, já casada e com filhos, ela decide estudar história e recomeça suas pesquisas, fato que desenterrará segredos e fará grande parte da cidade se voltar contra ela e sua família. 

O diretor alemão Michael Verhoeven (sem ligação alguma com o holandês Paul Verhoeven), que já havia cutucado as feridas do nazismo em “A Rosa Branca” de 1982, também protagonizado por Lena Stolze, aqui remexe ainda mais nas tristes lembranças do povo alemão. 

Os letreiros iniciais informam que o filme é uma ficção, mas ao mesmo tempo poderia ser realidade em qualquer cidade da Alemanha, além de mostrar um poema que cita como as pessoas tendem a apagar as lembranças que lhe são vergonhosas. 

A partir daí, o roteiro do próprio diretor faz uma severa e ao mesmo inteligente crítica à sociedade alemã, que varreu para debaixo do tapete muitos crimes cometidos por pessoas poderosas que apoiavam o nazismo e que após a guerra tentaram reescrever suas histórias de vida, algo muito parecido com que ocorre no Brasil e em toda a América do Sul em relação as ditaduras que reinaram entre os anos sessenta e oitenta. Por aqui, torturadores e terroristas tentam modificar suas biografias se autoproclamando patriotas e defensores da liberdade, sem que lado algum assuma sua culpa. 

O longa de Verhoeven mostra também como estas pessoas que continuam no poder fazem de tudo para dificultar o acesso a informação. A luta da personagem de Lena Stolze em busca dos fatos é uma verdadeira saga repleta de obstáculos, muitos deles ridículos e imorais. 

É interessante a escolha do diretor em criar cenas simbólicas e quase surreais, como a reunião da família de Sonja no que seria na sala de sua casa, porém com a praça da cidade ao fundo, ou os depoimentos dos personagens olhando direto para a câmera, inclusive utilizando a protagonista como narradora. 

O resultado é um filme obrigatório para entender como a história é sempre manipulada pelos poderosos e os vencedores. 

Como curiosidade, as cenas do passado são em preto e branco e as demais coloridas. 

O longa também concorreu ao Oscar de Filme de Estrangeiro. 

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