segunda-feira, 30 de junho de 2014

Meu Melhor Inimigo

Meu Melhor Inimigo (Mein Liebster Feind, Alemanha / Inglaterra / Finlândia / EUA, 1999) – Nota 8,5
Direção – Werner Herzog
Documentário

O diretor Werner Herzog e o falecido ator Klaus Kinski trabalharam juntos em cinco filmes e criaram uma intensa relação de amizade e ódio. Esta complicada convivência é contada em detalhes por Herzog neste documentário que desnuda as loucuras explosivas de Kinski e os próprios demônios de Herzog. 

Logo na primeira cena vemos Kinski em um teatro no início dos anos setenta interpretando um Jesus Cristo maluco, discutindo com o público e com seus próprios companheiros de peça. Em seguida, Herzog visita em Munique um casarão totalmente reformando onde vive um casal de idosos, local que nos anos cinquenta era uma pensão em que ele morou com as mãe e os irmãos quando tinha treze anos. Por uma coincidência do destino, no mesmo local morou o então ator desconhecido Klaus Kinski, que como Herzog conta, assustava os outros moradores com suas loucuras. 

Anos depois, após ter feito alguns filmes, Herzog se lembrou de Kinski e enviou o roteiro de “Aguirre, a Cólera dos Deuses”. Para sua surpresa, Kinski quis o papel e aceitou viajar com Herzog e a equipe de filmagem para a Amazônia Peruana, dando início a maluca parceria que renderia ainda “Nosferatu – O Vampiro da Noite”, “Woyzeck”, “Fitzcarraldo” e “Cobra Verde”. 

Para dar maior veracidade do doc, Herzog voltou a floresta no Peru, às margens do Rio Urubamba e contou detalhes das filmagens de “Aguirre” e “Fitzcarraldo”, principalmente os ataques de fúria de Kinski, alguns deles registrados pelas câmeras. É inacreditável a discussão de Kinski com o produtor de “Fitzcarraldo" por causa da qualidade da comida ou a sequência em que ele atacou os figurantes de “Aguirre” com uma espada e quase matou um sujeito. 

Na discussão sobre a comida, o detalhe curioso é a falta de reação dos vários índios que eram figurantes no longa e que olhavam com um misto de incredulidade e desprezo para os gritos histéricos de Kinski. Em um certo momento do doc, Herzog conta que no final da participação dos índios, o chefe da tribo disse que se se Herzog quisesse, ele mandaria matar Kinski. 

As ameaças entre diretor e ator se tornaram folclóricas, como quando Kinski quis abandonar as filmagens de “Fitzcarraldo” e Herzog disse que o mataria se ele tentasse ir embora. Apesar de Herzog mostrar Kinski como um maluco egocêntrico, ele também faz sua mea culpa ao citar que se aproveitava das explosões do ator para tirar dele sua melhor interpretação, além de não negar que também é um sujeito teimoso, por isso o conflito era inevitável. 

Herzog não toca na vida pessoal de Kinski, que depois de falecer foi acusado de ter sido um pai abusivo por sua filhas Pola e Nastassja, sendo a segunda também uma famosa atriz. 

No final Herzog deixa claro que Kinski era seu amigo, algumas cenas gravadas em locais longe das filmagens mostram que havia algo de especial entre eles, inclusive a última cena do doc apresenta o ator em um momento descontraído e aparentemente feliz, como sendo uma última homenagem ao amigo.   

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